Entro na livraria

Vou à estante de poesias

Há poetas mortos e vivos

Há poesia viva

E minha poesia adormecida


Folheio alguns livros

Procuro me educar com poesias inéditas

Me vejo em algumas

Me perco em todas

Não sou poeta

Sou um menino de calças curtas

Que necessita ser homem

 Alice sorri como pula um gafanhoto,

Bem alto, 

              que dobra a esquina. 


O sorriso de Alice dobra a esquina.

 Alice sorri como pula um gafanhoto,

                 Bem alto, 

que dobra a esquina. 


O sorriso de Alice dobra a esquina.

 Um homem morto

Caído no chão 

Desprezado pela sua pele


Que futuro teve o sorriso de criança 

Da mãe que amamentava e beijava seus olhos 


Da caxumba que teve aos doze anos

Do catarro do resfriado

E da sífilis adulta


Um homem jogado no lixo do esquecimento 

Do estado cego

E da sociedade podre


Um homem morto igual a tantos homens mortos

Sua identidade esquecida e agora caída

Talvez nem resista a números 


Um homem morto 

Pela vida que não construiu

Sem direito a padre, sem direito a Deus

Sem ter usufruído a vida de um destino incerto


Não sabemos sua idade

Sua pele não registra os anos 

Seu registro como cidadão é perdido 

Seu sorriso, meu Deus, quem o levou


Multidões o cercam

Muitos viram sua queda 

Muitas mãos recolhidas

Sem acenos

Perdidos em bolsos, em bolsos e paletós de linho


Um homem morto.

Uma criança o olha 

Sua curiosidade a leva a pegar na mão de sua mãe e apertá-la

Ela olha para os seus olhos

E o abraça 

Tão leve o sentimento de mãe 

Tão desapegado o sentimento de pátria

Tão desconexo o sentimento do poeta


Um homem morto

Em um sol de meio-dia

Sem vento 

Sem odor 

Sem sentimento

Jogado à terra que nunca lhe pertenceu


A criança olha outra vez

Seu primeiro sentimento de finitude 

Se perde na curiosidade de mais um dia

Descer pela rua não foi difícil.

Escalar os degraus,

ultrapassar a esquina,

difícil foi não olhar os olhos de Bia.


Pele branquinha, branquinha,

sorriso desses de menina de escola.

Olha ela aí, 

dizia meu olho dominado,

tão bela quanto o peixe no rio,

tão afoita quanto meus desejos de beijá-la.


Olha ela aí,

meu coração quebrava, tão frágil,

que saltava nervoso como um grito de pânico.

Olha ela aí,

minhas pernas freavam,

paralisado feito um ponto final.


Descer pela rua me fez atravessar espíritos,

tão difíceis de serem contemplados, tão perdidos.


Olha ela aí,

o que pensa de mim,

se sou desengonçado para seus olhos,

se sou uma parede branca,

se sou a semente que espera nascer.


Olha para mim,

me descobre com teu sorriso,

põe teus cabelos no meu rosto,

traga-me teu hálito,

descanse nos meus braços.


O que leva Bia no seu sorriso?

As cores fogem dos meus olhos

Não sei se corro , choro 

Ou apago as luzes

 A CERVEJA



Filha: Pai, o sr e o André,  estavam com uma garota de programa?


André: Não!


Pai: Não filha, que história?


Filha: Estavam?


Pai: Não filha...


André: Não!


Pai: Eu explico


Filha: Explica o quê?


Pai: Eu e o André estávamos no bar...


André: Isso


Pai: Aí apareceu umas meninas, eu pensava que eram amigas da faculdade do André...


Andre: Não, não  era.


Pai: Pois é Não  era!


Andre: Não era.


Pai: Aí conversa vai, Conversa vem...


Andre: Conversa, entendeu? Conversa de bar


Pai: Isso! Conversa de bar. Quando me dei conta,  estávamos no quarto de cima...


Andre: Eu precisei ir com ele


Filha:  Pai, o senhor levou meu noivo a  um quarto de uma garota de programa?


Pai: Não  filha, não.  Foi a cerveja

 Carminha entra pela casa adentro,

Um sorriso aberto,

Que faz a brisa entrar consigo.

Briosa

Fala alto,

Ri feito uma montanha.

Carminha,

É cria de Deus,

Igual a andorinha.