História 2


Pedro Maurício era um cidadão corcunda e baixinho.

Naquela época, não existia água nas torneiras.


A seca era grande; ele precisava buscar a água no barreiro.


Ele pegava a água num galão.

Pegava e vendia nas casas.

Era um velho abusado; não gostava de brincadeiras.


António Gouveia, uma espécie de poeta popular da cidade, brincalhão, 

não aguentava e disparava um verso quando Pedro Maurício passava com a água:


"Levanta, Pedro,

assim tu cais.

Levanta, Pedro,

tu amassas este galão.

Pedro foi buscar um balaio de ovos,

No caminho caiu,

Amassou os ovos."

 História 1


Hoje, morreu em São José dos Cordeiros a mulher do Pedro Maurício.


Eu era guri,


estava jogando bola, quando chegou a notícia:

"A mulher de Pedro Maurício morreu."


Parou o jogo.

Seu filho também era jogador.

Todos corremos até a casa.

Ao chegarmos,

estava cheia de gente e ela não havia morrido.


A mulher de Pedro Maurício foi a única ressurreição que experimentei em vida.

 Não sou saudosista com o tempo 

Passou, passou, passou


Seja a canção 

Seja o verso

Seja a prosa


Seja o calendário que sempre se repete

Ou a cachoeira que leva a água para o mar


A vida, tanto quanto o universo, é uma explosão 


Não sou saudosista nem com amores 

Com o beijo

Com o sentimento perdido


Sou igual àquela flor

Que seca, brota outra semente 

E a que nascer

Depende do movimento da vida


Aquele espinho

Que protege um fruto de uma flor colhida


Em toda essa vida

Sempre fui o singular 

Não porque quis 

Não porque sonhei que seria

Apenas pela existência 


Escrevo, escrevo, escrevo

E este é um poema que não será lido

Escrevo como quem vai até um psiquiatra; 

Mas nem sei se minhas mãos refletem o meu verdadeiro eu

Escrevo, escrevo, escrevo


Olho para o meu corpo 

Quão diferente fiquei 

Do menino de calças curtas

Que sonhava com uma calça jeans 

Igual às que saíam as festas


Não sei onde estarei aos sessenta 

Talvez escreva poemas 

Talvez encontre um Natal mais feliz 

Ou talvez corra


Escrevo, escrevo, escrevo

Como é difícil expressar 

Que a vida não é tão difícil 

E sim se sentir amado 

Escrevo, escrevo, escrevo

E procuro a quimera 

Dessa existência

Que leva o homem a se achar infinito

 Ando com vontade de beber cerveja.


Quero estar num bar de esquina,

No local mais característico do centro da cidade.


Ando com vontade de gritar e comprovar:

- Que as cores preto e branco

São as que transmitem mais emoção e fanatismo no futebol.

- Que meu ídolo é o maior.

- Já marquei um gol tão belo

Como aquele que Pelé não fez.

- Que entoo o hino do meu clube com a emoção de um recém-apaixonado.

- Sou o torcedor número 1!


Ando com vontade de tomar uma cerveja

E falar de política;

De como meu grito é progressista.

Que aqueles que me ouvem e julgam

Entendam que:

- Perco pelo excesso, ganho com um coração fraterno.

- Aspiro igualdade, conquistada pelo grito da liberdade.


Ando com vontade de beber uma cerveja e falar de amor:

- Porque é necessário estar apaixonado!

- É necessário saber que é amado!

- É necessário mergulhar

Dentro de um sorriso

E sentir-se amado.


Ando com vontade de beber uma cerveja,

Para que o dia termine

Com a alegria de um domingo;

De mãos dadas com o meu amor

Sentindo seu hálito

Dentro do meu espírito.

Uma vez

     perguntaram- me

o momento que eu me sentia pleno 

                    feliz?



     Rápido a resposta:  

                       

É  a espera da chuva.



Não 

        uma chuva ordinaria, 

mas 

        a primeira grande  chuva do ano. 

Aquela 

             em que se sabe que o ano   

É de fartura.



Foi assim que me senti 

                     naquele dia, 

quando 

            estava sentado 

                                no banco,

em frente 

              a uma chuva

                      que                                               aparentava 

cair a ququer momento

                       Em Cordeiros.


Era nuvens cheias,

                        escuras

e cada vez mais se aproximavam.



"É chuva.

            É uma grande chuva", 

pensei.



Pessoas passavam 

                         apressadas. 

Impressionava 

                      nesses dias. 

Elas  sorriam,


Até os moleques

       faziam planos para tomar banho embaixo 

               de uma biqueira.



Eu ficava sentado 

                olhando 

e acompanhava 

                      todo movimento:



De início 

             um vento frio, 

mas 

         percebiamos  pequenos raios.


- Vai chover!

                 Ouvia de alguém. 

                    " Vai chover 

                                muito! 


Falei para mim mesmo:

- É  chuva para encher rios.



Olhei 

               para

                          o pé de figo, 

as folhas 

               moviam-se, 

as andorinhas 

começavam a procurar esconderijos.


Olhei 

          outra vez

                    para as nuvens

e  vi 

      que cortando o céu, 

                 um arco-íris 

                                   grande, 

cortava 

    De um horizonte  a outro o céu.


- "Aquilo não"!

                ouvi de alguém,  

"Arco-íris carrega a chuva".


Era bonito 

Confesso,  

                 mas era assustador. 



Queria chuva,

Seu Serverino em sua 

                 sapciencia  

                       de carieizeiro

dizia 

        que 

           "arco-íris leva a chuva, 

pois era uma 

          lembrança  de Deus 

ao prometer 

             jamais

                      outro dilúvio".


Eu

     não queria um dilúvio, 

queria 

       uma grande 

                      chuva. 

Uma chuva

que enfeitavam o campo.



Fiquei 

          Mirando 

                  um tempo 

percebi 

          que outra vez 

                          cenário mudou:




        um vento forte, 

Percebi que as nuvens vinham  carregadas. 

      Aquilo

           me fez 

                erguer

Vi 

           relâmpagos , 

e em seguida

                  trovão  

                        muito forte. 

Foi como se tivesse caído pedras

                                   pela cidade.


 - Eita!

       esse foi grande. 

                        Gritou alguém.

Mas tive que 

correr 

         em seguida 

 outro

                  e outro. 

E outro

             E outro 


Começou a chover com pingos fortes. 

        Era gelo!

             pedras de granizo

                    começavam a cair

que doía 

            no corpo.


Começou o inverno!


"Zefa, começou o inverno"



Eclipsi 

(14/10/2023)


No início, a lua se escondeu entre as nuvens.


Atrevida, cobriu o sol,

Pura travessura.

Ela é mais bela e poética

Do que a luz e a brisa.


A lua se fez de menina má:

Pintou-se de vermelho,

Pura traquinagem.


A lua é mais sapeca

Do que o raio e o trovão.


A lua deixou apenas a borda do sol,

Pura vaidade.

Prometa a Deus que não fechará os olhos

Prometa que resistirá às dores

Ao vazio e ao silêncio 

Prometa que erguerá as mãos

De braços longos e sorriso firme

Com as mãos, erguerá  seu chapéu 

Prometa, com punhos e braços erguidos, 

Com voz firme de um liberto.


Prometa a mim e a ti,

Às árvores e à  terra,

Ao vento e aos astros. 

Ao assobio do camponês.


Prometa!

Você é a mulher mais bonita que já vi, sabia?

Mais bonita que a chuva no horizonte, 

Que a gente fica espiando, matutando, esperando ela chegar.

E quando chega vem aquele cheiro gostoso.

Você tem aquele cheiro gostoso, sabia. 

Cheiro de mulher donzela, que maltatra minhas partes e me faz perder o respeito, me faz pecador

Você é  como uma tanajura depois da chuva,

Avuando até meus braços.

E eu te pego assim: delicado, pego em tuas asas, tua bunda e penso em te  jantar.

Você vai ser minha janta de hoje, sabia 

E a gente vai se acordar igual aquela lua. 


Você é  o meu sol.

Queria

Queria sim 

Queria

Ao som de meio dia

Queria

Queria me perder 

Queria

Queria de dedos longos 

Acenar o dia 

queria

Queria a canção 

Nos lábios de Maria 

Tal qual um sol abrasivo

Queria 

Queria ser o vento no seus cabelos 

Queria

Queria sem fantasia

E antes de todo fim

Sem rimar, sem amor, sem devaneio:



Queria me perder em um livro de poema