Não sou saudosista com o tempo
Passou, passou, passou
Seja a canção
Seja o verso
Seja a prosa
Seja o calendário que sempre se repete
Ou a cachoeira que leva a água para o mar
A vida, tanto quanto o universo, é uma explosão
Não sou saudosista nem com amores
Com o beijo
Com o sentimento perdido
Sou igual àquela flor
Que seca, brota outra semente
E a que nascer
Depende do movimento da vida
Aquele espinho
Que protege um fruto de uma flor colhida
Em toda essa vida
Sempre fui o singular
Não porque quis
Não porque sonhei que seria
Apenas pela existência
Escrevo, escrevo, escrevo
E este é um poema que não será lido
Escrevo como quem vai até um psiquiatra;
Mas nem sei se minhas mãos refletem o meu verdadeiro eu
Escrevo, escrevo, escrevo
Olho para o meu corpo
Quão diferente fiquei
Do menino de calças curtas
Que sonhava com uma calça jeans
Igual às que saíam as festas
Não sei onde estarei aos sessenta
Talvez escreva poemas
Talvez encontre um Natal mais feliz
Ou talvez corra
Escrevo, escrevo, escrevo
Como é difícil expressar
Que a vida não é tão difícil
E sim se sentir amado
Escrevo, escrevo, escrevo
E procuro a quimera
Dessa existência
Que leva o homem a se achar infinito